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trailer

por nathalia rech
Desenho de Ariyoshi Kondo ilustra os poemas de natalhia rech.

nathalia rech vive atualmente em lisboa, onde realiza uma pesquisa de investigação sobre poesia, mídia e biotecnologia. reúne seus trabalhos no site penduricalho.


trailer

Eu gostei do filme mesmo sem vê-lo
Porque no trailer inventei um filme
Maravilhoso
Não poderia te explicar a história
Mas sei que se visse de fato o filme
Inteiro
Ela desapareceria
E era uma história onde eu me sentia
Muito bem como o peixe devolvido
Ao mar depois da pesca
Ainda com segundos
de exaustão de terra na barriga
Uma sensação de leveza
Não posso ver o filme falei a eles
E sentei embaixo de uma árvore
Como quem sabe estar
Muitos anos cedo demais
Para um compromisso.


cenas falsas em 1983 ou hoje

I
Duas mulheres cochilam uma sobre a outra
em um vagão de metrô.
A velocidade dos carro está reduzida, é tarde da noite,
A Alemanha joga cartas com o passado
E quem ganha é a luz pálida amarela
Nos bicando na janela
Como um pássaro esfomeado.
Duas mulheres cochilam, amontoadas, uma
Sobre a outra, com os braços
E a cabeça
Esculturadas no cansaço ou na serenidade
Uma da outra.
E o vagão do metrô é a intersecção
De uma sobre outra
E a estrutura das linhas é a curvatura
De uma dentro
Encaixada no dentro da outra
Enquanto um país parecer ser o que usamos para o sono
E para todos nós a Alemanha não chega nunca.

II
Preces erguidas como prédios nos impedem
de cair no rio.
Não sou boa de conversar com o passado
Não perdoo o século XIX por nada, lamento a minha
amiga Hannah.
Preciso arranjar uma árvore secular para confessar
Minhas novas gírias íntimas.
Quitutes solfejantes, cantadas de lascar.
Hannah quer me levar ao bairro jovem.
De juventude, temos a areia que não pousa.
Sou uma carta muito antiga. Uma nota repetitiva.
Trava-línguas de único cheiro.
Quero ficar aqui, eu a digo, e
Olhar as ruas como se fosse pedidos.

III
Aqui todos mistérios estão solucionados
Mas ainda podemos ser presos pelo que
Todos já sabem
Todos os mistérios estão solucionados
por nos tentar enigma
nos invocam
Digo em bom português no bairro
dos imigrantes, dos refugiados.

IV
Meu sotaque favorito é não se fazer explicável
facilmente
tento comunicar à aeromoça.
Meu gênero literário mais delicioso é a confusão
Em meu país foi inventada a crônica, saibam,
Essa tentativa contrabandear o presente mais adiante.
Os aviões parecem ser as colunas que sustentam
O céu
Eu temo pelo azul quando pousarmos
As crianças distraem a paisagem
Lambuzando as janelas.
O risco parece uma moeda de troca de valor muito
baixo,
Quase fora de circulação.
Exames, alfinetagens mils, máscara
De sutura. Guardo minha sobra para mim.
A bandeira de um país é o sol descolorindo a bandeira
de um país
Tento dizer mentalmente para a senhora
Que dorme ao meu lado.
Aos que acordam apenas nas aterrissagem
Meu respeito
E meu grito suspenso
em incompreensão.


ponto de observação

O movimento dos planetas
Em seu eixo, ao redor dos sois,
Da galáxia deslocando-se no espaço
Como o estilingue de uma criança.
A força de aceleração residual
Do big bang, rapidez cautelosa
Do caçador.
Que nada:
A lentidão inercial das manhãs
Contra a rapidez das tardes atiradas
Ao suor preenchendo o corrimão.
E as noites como estátuas paradas
Onde o martelo e sua força
Contra sua pele e sua fixa feição
Dá velocidade artesanal
A passagem.


Desenho de Ariyoshi Kondo.

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